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Literatura Brasileira: Entrevista com o Poeta e Filósofo João Marcos Graeff

Foto do escritor: Thiarles SosiThiarles Sosi

Atualizado: 30 de dez. de 2024

Série de entrevistas: As Letras Brasileiras do Século XXI

Em nossa terceira entrevista publicada, trouxemos o escritor e poeta João Marco Graeff, um quase monge eremita da vida filosófica, que vive numa choupana do Rio Grande do Sul, convivendo com o espírito de seus mestres. Ele contar-nos-á um pouco de sua longa tragetória e visão de mundo.


Nota: As opiniões e análises aqui emitidas não necessariamente correspondem a opiniões e análises da Casa Editorial da ENA ou do entrevistador, mas são de cunho pessoal do entrevistado. Agradecemos a compreensão e boa leitura!



Fotografia: João Marcos Graef Bastos, 2024

Literatura Brasileira: Entrevista com o escritor e poeta João Marcos Graeff


O que falta no Brasil não são pessoas qualificadas a escrever, mas pessoas qualificadas a ler o que os literatos escrevem”.


Thiarles Soares (TS): Ficamos felizes por ter aceitado nosso convite, senhor João Marcos, e queremos conhecer mais de sua vida e de sua literatura. Conte-nos um pouco sobre quem é você, sua infância e juventude.


João Marcos (JM): Infância e juventude: Saudações poéticas! Sou João Marcos Graeff Bastos e, além de me dedicar à literatura, dedico-me também à filosofia. Minha infância foi na casa de meus avós em Porto Alegre/RS, junto a dois irmãos e um primo. Minha avó era muito cuidadosa e afetuosa, como é até hoje aos 95 anos. Meu avô descendente de alemães, disciplinador, deu-me sempre o tratamento de um adulto, não tolerava meu comportamento de inconformidade à sua autoridade. Somava-se ao que via como autoritarismo, seu ateísmo, enquanto eu era e sou libertário e era religioso na época. Cresci numa família de muitos professores, por várias gerações, minha avó alfabetizadora por 30 anos, forneceu-me a propedêutica antes do ingresso no colégio. Meus irmãos, um atualmente professor universitário e outra atualmente pedagoga iam me falando sobre a realidade social, histórica e até espiritual com uma pequena biblioteca que tínhamos no quarto. Nossa mãe visitava-nos quase diariamente, nosso pai, que foi pintor de arte e radialista a quem muito me assemelho naquele aspecto do gaúcho originário, foi ausente por quase todo o tempo, visitando-nos algumas vezes no fim de sua vida.


No final de minha infância tornei-me amigo de um advogado vizinho, descendente de italianos. Tomou-me como a um filho, fazíamos várias atividades, mas, por fim, o que mais gostava era mesmo os livros e as conversas, além dos filmes de Guerra e de Máfia (muitos diriam impróprios para um pré-adolescente, eu até queria ser mafioso, risos). Até para a aula de Direito esse padrinho me levou nessa tenra idade. Logo, com a minha sensibilidade com a situação dos miseráveis, somada a leituras de História (uma paixão de meu amigo advogado) tornei-me comunista enquanto ele era direitista anticomunista. Passávamos todo o tempo debatendo!

Parti de Porto Alegre para Teutônia, colônia alemã onde nascera meu avô. Naquela época lia umas oito horas por dia, mãe e avó chegavam a preocupar-se. Minha tia-avó, também professora, foi delegada de ensino e secretária da Cultura da cidade de Venâncio Aires/RS, além de trabalhista histórica. Tinha uma grande biblioteca e muito me influenciou com livros e conversas. Então passei, com diletos amigos, a circular pelas margens da cidade usando psicotrópicos e discutindo política. Converti muitos ao socialismo, mas a combinação entre psicotrópicos e política para muitas pessoas não é producente, risos.


Assim, depois de muitos estudos sobre várias religiões, sobretudo da Índia, encontrei-me com Francisco, esse “místico oriental perdido na medievalidade ocidental”, e passei alguns meses num seminário franciscano, mas via também, na teologia da libertação, a unidade entre a genuína espiritualidade cristã e a proposta política marxista. Um meio de realizar, como frade franciscano, as missões de minha existência. Devido ao que eu enxergava como uma vivência banal, saí do seminário e fui estudar filosofia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Lá, além de estudar, militei primeiro no PSTU e depois participei da comunidade pró-zapatista, e, confrontando esses grupos retirei-me para formar uma chapa de protesto, que propunha democracia direta no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFSM. Antes disso, dois fatos denotavam a saída de minha primeira juventude: aos 19 anos fico sabendo da gestação de minha filha e, conforme alguns eventos já indicavam, tive um episódio delirante, passei por várias faculdades e o transtorno bipolar impediu que conseguisse me formar. Passei por várias internações psiquiátricas sem deixar de ler e escrever.


TS: Você possui uma personalidade bastante “fora do comum”, porque possui um caráter bem próprio em sua formação. Conte-nos um pouco de sua formação cultural?


JM: Desde o precoce despertar intelectual meus interesses foram: literatura e arte em geral, filosofia e ciências humanas. Kafka foi a cristalização do vínculo com a literatura, como para tantos literatos, Kant a cristalização do vínculo com a filosofia, e Lênin a cristalização do vínculo com as ciências humanas, li toda a sua obra, muito diferente de sua concepção na prática política. Outro formador na área das ciências humanas foi o brasileiro Darcy Ribeiro. A Kant seguiu-se Schopenhauer e então Nietzsche, uma influência fundamental na minha poesia. Descubro a poesia maldita de Genet, Artaud, Rimbaud e Baudelaire, e por fim o paulistano Roberto Piva. Outra linha é o realismo fantástico de Jorge Luis Borges, Gabriel Garcia Marquez, Murilo Rubião, com Edgar Allan Poe e Franz Kafka como precursores. Meu novo livro “Contos na fronteira da razão” (que contém também “poesia em transe”) talvez pudesse ser tomado como realismo fantástico, mas eu diria que uma designação melhor seria realismo fantasioso, pois os seus contos não têm um ponto claro de rompimento com o real, como no realismo fantástico. como o mágico irrompe ruidosamente em Guimarães Rosa. Bukowski e Kerouac vieram posteriormente com sua dose de irreverência. Os russos são um caso à parte, Dostoiévski com sua perscrutação, Tolstoi com seu painel psicossociológico, Tchekov com a crítica psicológica e a crítica social comportamental de Zachtchenko, e a poesia seminal de Maiakovski. Na Itália, Ítalo Calvino com seu realismo fantasioso, o detalhista Italo Zvevo e o complexo Umberto Eco. A cereja do bolo de minha trajetória de leituras, porém, é a poesia modernista portuguesa. José Régio, Almada de Negreiros, Antero de Quental, Mário de Sá Carneiro, Florbela Espanca, Cesário Verde e, claro, Fernando. Uma poesia intensa e profunda, sofistica e irreverente. Soma-se a essas referencias supracitadas dentro do caso brasileiro de transição doas poetas para a música, os sambistas Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, Cartola, Paulinho da Viola, Adoniran Barbosa, Batatinha e Lupicínio Rodrigues, e no letrismo da música nordestina, o monumento imaterial que é a obra de João do Vale, como de Jackson do Pandeiro, Dorival Caymmi, Belchior e, claro, Luís Gonzaga.


TS: Em seu livro “Deus está com fome”, você manifesta uma visão subjetiva de uma metafísica do homem. O que os deuses copiam e o que o homem cria?


JM: Minha poesia é marcada por uma ânsia pelo transcendental, que, dentro da própria raiz temática é irrealizável, como o amor não pode ser realizado dentro do ideal do romantismo, mas enquanto o romântico põe seu objeto numa redoma, e morre por ele, meu Eu lírico se ressente do abandono do Deus que ele mesmo matou. Esse ressentimento é o seu niilismo, o radicalismo de suas propostas, a angústia de sua existência... outra coisa é a influência do estilo bíblico comungado com Nietzsche. Menos relevante que as características da linguagem simbolista. Especificamente, há o constante uso de antíteses e contradições, constantes como na frase “todos os deuses copiam, só o homem é deus criador” – indica que a expressão do divino é sempre antropomórfica, enquanto aquilo que o homem cria é fundamentalmente novo a partir do absurdo da existência, inclusive quando cria os deuses. 


TS: O que o levou a escrever este livro, o gatilho inicial, a intuição motivadora?


JM: Acredito que os homens mais poderosos não são políticos com seu entourage e nem militares com seu aspecto potente e nem mesmo plutocratas: os homens mais poderosos vivem na modéstia financeira, dedicam-se tenazmente a ofícios que muitas vezes só lhe darão crédito no post-mortem e tem uma compreensão qualitativamente superior da realidade humana. Esse “homem do espírito”, o homem das artes, filosofia, religião, ciências humanas, é a pessoa mais poderosa entre todas as funções sociais. Pois o poder do político depende menos dele do que das circunstâncias, é apenas aparente. O poder do plutocrata é comprado, e o poder, nesse caso, é como a amizade: quando comprado se injustifica. Enquanto o poder militar é só de alguém que exerce uma função, quando ele não cobiça pela imposição o poder do político. – O homem mais poderoso é o homem que produz conceitos que serão absorvidos pelos séculos, no abrigo de um tugúrio empoeirado, o homem que desenvolve estilos artísticos que marcarão a história, mas que almoça na casa da irmã. O homem cuja obra é uma realização do destino intelectual (espiritual em amplo senso da humanidade), mas tantas vezes pede emprestado para comprar um cigarro. Esse poder que busco ter com a literatura e com a filosofia. O que busco com a literatura é, portanto, poder. Esse poder dos chamados “atypisscher mann”, homens atípicos. Ainda que melhor fosse não ter uma biografia equivalente no que diz respeito aos percalços dos enredos das vidas dos poetas. 


TS: Como você vê a literatura hoje no Brasil?


JM: Mesmo Antônio Cândido admitia a literatura brasileira como apenas um braço da literatura portuguesa. De fato, pensando não só na poesia modernista portuguesa, essa ofereceria uma plêiade tão qualificada e múltipla como nenhum período da literatura brasileira. Me parece que a literatura brasileira não tem muitos autores extraordinários estabelecidos como referência, mas tem alguns comparáveis a qualquer literatura. Um amigo me disse que o azar de Machado de Assis foi ter nascido no Brasil e escrever em português. Pois se escrevesse em francês seria tão reverenciado como Flaubert, em alemão tão fundamental como Goethe, em inglês tão relevante como Byron. A sorte foi nossa por contê-lo. Como a magia de João Guimarães Rosa ou a psicologia aguçada de Graciliano Ramos. Pessoalmente, considero a substância simbolista plena aliada a formalidade parnasiana precisa uma estrutura estilística universalmente incomparável na obra do paraibano Augusto dos Anjos. De Gregório de Matos até Roberto Piva, passando por Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Mário de Andrade, sobretudo “Macunaíma”, João Cabral de Melo Neto e Mário Quintana, o que falta no Brasil não são pessoas qualificadas a escrever, mas pessoas qualificadas a ler o que os literatos escrevem. 


TS: Ainda há espaço para a literatura brasileira no século XXI?


JM: Falar sobre literatura no século XXI é falar sobre a crise da literatura. Falar sobre a crise da literatura é falar sobre a crise da cultura. E, falar sobre a crise da cultura é falar sobre a crise da Civilização Ocidental. A função da literatura se inclui na função da intelectualidade. A função da intelectualidade após as revoluções burguesas é outra. A nobreza exigia vários atributos, entre eles, cultura. Mas sob o capitalismo a única exigência para ser um burguês é possuir capital... mais nada. Por isso, a crise da cultura ocidental é uma crise das elites. A classe baixa está menos ignorante, como sempre o foi, mas a elite socioeconômica encontra-se no seu nível de cultura mais baixo, e isso devido à função da cultura no capitalismo. Os autores contemporâneos que gosto, além de Piva, já citado, são Moacyr Scliar, Caio Fernando Abreu, Wally Salomão, Paulo Leminski, Antônio Assis Brasil, e mais contemporâneos: Guilhermino Freire, Altair Martins, Amílcar Bettega e Amara Moira. 


TS: O poder da literatura então pode ser, em certos aspectos, mais rígidos e mais agressivos que o poder das armas?


JM: Aquilo que quis dizer sobre arte e poder, é que o poder do artista tem a maior efetividade. Quando um romancista ocupa a mente e o tempo de outro ser humano por períodos que estendem-se por dias, temos a plenitude do poder, dentro da realização da autonomia dos poderes, das potências e das potencialidades - O político nunca é realmente autônomo. Darcy Ribeiro conta que, antes de assumir a presidência, Juscelino Kubitschek o convidou várias vezes à assumir o Ministério da Educação com a vitória na eleição. Darcy desconfiava… Como Juscelino  pode crer que no seu mandato caberia um político como Darcy? - Isso é a acrasia, ingovernanca do poder político. Ela limita as realizações humanas, mas também limita as possibilidades de dominação e manipulação de um homem sobre outro. Pois, se um homem não governa a si mesmo, até onde outros o poderão fazer? Já o plutocrata tem seu poder vinculado à utilidade que tem para os outros e à utilidade que os outros lhe têm. O agente das forças de segurança é um instrumento que, quando deixa de sê-lo, torna-se arbitrário. Acontece que na decadência da Cultura Ocidental, os seres humanos concebem suas potências apenas como um meio para obter a maior utilidade pessoal, e, mais à fundo, a busca febril pelo capital simbólico. Se alguns artistas usufruem dessas vantagens sociais,  elas são para o fazer artístico, irrelevantes. Não são constituintes dela, como daqueles outros poderes. A arte forma e transforma pessoas com autonomia total do artista e ampliação da liberdade do consumidor de arte, através da ampliação e aprofundamento de sua relação com o Mundo.


TS: Você vê o movimento de 1922 com bons olhos? Por quê?


JM: O modernismo brasileiro expressou a contradição fundamental da intelectualidade artística  da periferia do globo: criar uma nova arte nativa, sobre a influência das Culturas Centrais. Na pintura parece que, por vezes, não há um verdadeiro rompimento, mas uma continuidade brasileira das vanguardas europeias, como em figurativismos muito presentes nas vanguardas europeias e no modernismo brasileiro. O uso das “cores caipiras”, pelo contrário, vem no sentido de uma construção realmente nativa. Mas foi em “Macunaíma: um herói sem nenhum caráter” que a proposta antropofágica cultural de descontração pela raiz, pela nossa raiz, alcança a plenitude. Seu estilo bebe nas lendas indígenas… computadas por um alemão (risos). Com Macunaíma houve mais que um rompimento temático com os modelos apreendidos do Velho Mundo, mas um rompimento estilístico. Por vezes foi apenas temático. Quanto a julgamentos de valor… desnecessários: a Semana da Arte Moderna era inevitável.


TS: Você se considera um pessimista filosófico?


JM: Eu diferencio o pessimismo comum, que consiste em avaliar, na existência, o sofrimento mais constante que a satisfação, gozo, gratificação, alegria, do “pessimismo filosófico”. O pessimismo comum poderia ser aferido cronologicamente? Existencialmente seria [ad]missível? - Em todo caso, trata-se de uma comparação subjetiva e uma relação de soma e subtração que depende da sensibilidade subjetiva. O pessimismo filosófico, pelo contrário, não é quantitativo, mas qualitativo. Ele vê a qualidade da relação entre sofrimento e satisfação. O sofrimento, na dinâmica da ética existencial, é o polo positivo da existência. Positivo como modo afirmativo. Como a doença causada por um vírus, uma bactéria, um fungo, uma célula disfuncional, é positiva em relação à negatividade do conceito de “saúde”. Como o repouso negativo da fadiga. Como a saciedade é negativo da fome. A fome é o motor. O sofrimento, fugir à ele, é o fim último da existência humana. O sofrimento é propositivo, ou seja, coloca-se como um elemento positivo, com uma valência positiva, já a gratificação é relativa ao sofrimento. A satisfação negativa em função da dor. Pois a felicidade é imperceptível sem a dor. É uma diferença qualitativa entre a afirmitividade ética-existencial do sofrimento  e a reatividade da felicidade, alegria, satisfação. Esse é o “pessimismo filosófico”. Esse é o pessimismo que entendo inegável.


TS: Se a crise da cultura é uma crise das elites, não se poderia dizer que isto não é também fruto do revisionismo histórico de cunho marxista que viu nos velhos paradigmas da intelectualidade nobre a manutenção do poder do antigo regime? Assim estaríamos numa sadia quebra de paradigma intelectual para uma nova síntese cultural conforme o novo direito civil conquistado às classes menos aclaradas…


JM: A crise cultural  não é uma crise de influência, no caso, da influência marxista sobre o modelo, naquele momento histórico, clássico. A crise surge muito antes do pós-Guerra, com a ascensão da burguesia e sua hegemonia cultural. A Escola e a Universidade vêm da escolástica e da tradição estudiosa da Igreja e, nesse sentido, os fins intelectuais últimos da Escola e da Universidade são, originariamente, espirituais. Quanto ao marxismo, o fim da atividade intelectual é histórico. O nobre precisava mais do que terras e título nobiliárquico para reificar a sua identidade social: ele precisa de Cultura como Capital Social. Como ao marxista não basta partido e sensibilidade social: ele também precisa de Cultura, para reificar a sua identidade política e a sua função social. - Quanto à identidade da classe burguesa, ela independente do fator da Cultura. As relações de trabalho baseiam-se apenas nas relações de produção, e as relações de produção, apenas nas relações de capital.


O que é necessário à condição de nobreza? Para ser burguês só é necessário o Capital. O fim da atividade capitalista não é transcendental ou histórico; moral ou político. Ele redunda na acumulação de pecúnia, como se o fim da atividade social fosse a acumulação de recursos e não o contrário. Você não precisa atestar qualidades morais ou laços espirituais para ser um capitalista, nem finalidades estéticas ou existenciais: você precisa de pecúnia, através do Capital, através da propriedade dos meios de produção e distribuição. O burguês não precisa de Cultura para ser um. Um nobre sem Cultura era motivo de escárnio. Um comunista sem Cultura é uma farsa. A Cultura apenas serve à quem tem como usá-la no espaço das disposições do intelecto. A geração da riqueza pelo empreendimento capitalista, dispõe do intelecto como instrumento produtivo e somente… daí que todas as áreas do conhecimento imediatamente inúteis ao processo de acumulação do Capital, propriedade, pecúnia… tornem-se marginais, a começar pela Filosofia no Globo todo, as Ciências Humanas em vários pontos, a Teologia em quase total processo de exclusão.


Aquilo que desestrutura a Cultura Ocidental é que o sistema social burguês não depende dela. Como dependia o sistema nobiliárquico. Da mesma forma que, pelo óbvio, ante a necessidade de um construto ideológico, aqueles que articulam uma projeção política (marxistas, libertários, fascistas) inevitavelmente terão de dispor da Cultura como constitutiva do seu ser político. 


TS: Tem um livro de cabeceira?


JM: Não. Fico recluso em uma cabana no bosque do pátio  onde vivo e tenho uma pequena biblioteca. Passo pouco tempo no quarto de dormir. Tenho livros no banheiro (risos), Li Boccaccio recentemente, e, agora "História da Civilização Ocidental" de Eduard Burns. 


TS: Fale sobre o seu novo livro “Contos na Fronteira da Razão” e como se pode adquiri-lo.


JM: Quando estava preparando o livro atual, dentro da Lei Paulo Gustavo, num projeto que tinha como mote a relação entre literatura e saúde mental, observei, atrasadamente, que quase todos tratavam de um modo ou outro, da experiência da loucura. Na perspetiva de um realismo mágico.  Fiquei impressionado que ainda não tivesse refletido sobre as semelhanças desses contos. Para adquirir "Contos na fronteira da Razão"- seguido de "Poesia em Transe", entre em contato  pelo email: joaomarcosgraeffbastos@gmail.com ou pelo instragam: joaobastos789


TS: Quais são suas maiores influências literárias?


JM: Kafka sobretudo. O grande formador de escritores. Muitos falam isso. Gabriel Garcia Marquez conta, que jovem lia muito, mas não pensava em ser escritor. Quando caiu-lhe um texto de Kafka em mãos, disse: "Se dá pra fazer essa porra escrevendo, então eu quero ser escritor!"- Foi a imaginação febril que marcou a tomada de uma nova forma de onirismo, como no seu primeiro conto "Descrição de uma luta"(?). Estilisticamente a descrição de um sonho. Outra situação, foi o fato de que antes de escrever meus poemas em prosa, fumando no pátio ou bebendo café na cozinha, escutava uma voz não-audível que ditava as primeiras frases. Tomava a caneta apressadamente, para não perder o fluxo. Quando revisitei a curta obra de Rimbaud, dei-me por conta: era a voz de Rimbaud que recitava. Ainda citaria Baudelaire, Augusto dos Anjos, Borges, Machado, Graciliano Ramos, com seu estilo rigoroso de "Vidas Secas" e seu oposto complementar Guimarães Rosa, no contismo, um realismo mágico. Dostoiévski e Nietzsche. Ítalo Calvino e Saramago. Buckowsky e Kerouac. Genet e Artaud. Blake e Schopenhauer... são meus mestres, meus colegas e meus companheiros.


TS: Queremos agradecer sua presença nesta entrevista, João Marcos, e desejamos a ti uma feliz carreira literária. Deixe uma mensagem para nossos leitores e escritores que contemplam o nosso e agora o seu trabalho.


JM: Como mensagem aos que acreditam na extinção da literatura, deixe-me ser distopicamente mais problemático: a literatura, com a evolução do Sistema Capitalista prevista, não deixará simplesmente de existir; ela irá restringir-se às altas esferas sociais. Valor incompreensível ao povão e muito reconhecido à classe que tem acesso. Ocorrendo algo próximo ao que se passa com a gastronomia e a vinicultura.


Como saída a essa decadência cultural, em termos de movimento cultural, não vejo reação, senão a integração a articulações de outros campos. Não será apenas com debates que será tomada uma direção de antítese às forças mundiais da massa-midia. Não se pode abolir a ignorância distribuindo livros, como não se erradica a fome distribuindo comida. O que leva a querer entender é um processo de sensibilização. Se os jovens da classe baixa não forem sensíveis e sensibilizados esteticamente, então restará aos desprovidos o acesso quase restrito à Cultura de Massa. A educação formal já não dá conta. A ideia seria integrá-las para sensibilizar o educando, que a partir dessa, produz a autoeducação como processo central da sua educação.


Você pode contactar o escritor João Marcos e adquirir seu mais novo livro pelos seguintes dados de contacto:

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