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Literatura Universal: Faulkner vs Hemingway - uma luta de boxe literário

Foto do escritor: editoranovaagoraeditoranovaagora

Atualizado: 6 de mar.

#Faulkner VS Hemingway - Uma luta de boxe literário



Fotografia 2025 por Felipe Nomura
Fotografia 2025 por Felipe Nomura

Escrito por: Felipe Nomura, 05 de Março de 2025;


Dos dois lados do ringue, os maiores escritores americanos do século XX. À direita, Faulkner; à esquerda, Hemingway. Dois antagonistas de estilos de luta totalmente opostos, prontos para serem postos em paralelos amigáveis e criar uma reflexão sobre o estilo e o fazer literário.

O livro de Faulkner, Palmeiras Selvagens, ganhei no amigo secreto de fim de ano do meu trabalho (obviamente eu havia encaminhado minha lista de desejados no grupo do trabalho), e não poderia ser mais grato e feliz.


Ganhei de Natal um vinho branco da minha cunhada e, por acaso do destino (da musa que me persegue), estava escrito uma frase de Hemingway no rótulo. Algo que não planejei foi minha amada sogra lembrar desse pobre mendigo de livros e comprar para mim, por acaso dessa musa, Paris é uma festa. Ela me deu um livro do Hemingway, com vinho branco sendo despejado.

Mas enfim, graças a essas almas caridosas, pude ler em paralelo esses dois americanos que formam o cânone do país. Ambos vencedores de prêmios, quando isso significava alguma coisa.

E não poderia ser mais feliz em dizer que essa leitura paralela foi uma mistura perfeita. De um lado, o denso, complexo e de sentenças longas Faulkner; do outro, o direto, simples e econômico Hemingway. Essa dualidade reflete não apenas dois estilos literários, mas duas visões de mundo. Faulkner nos leva ao interior da mente, às ramificações infinitas dos pensamentos, enquanto Hemingway prefere nos situar no presente, no que é dito e feito, com a máxima objetividade.

Diria que esses opostos da literatura me atraem, pois demonstram com perfeição que "no meu reino há muitas moradas" e, da mesma forma que na santidade existe um santo Tomás e um são Francisco, na literatura não poderia ser diferente. Essa tensão entre sentenças longas e curtas, complexidade e simplicidade, também se observa na literatura europeia, como em Marcel Proust, que escreveu Em Busca do Tempo Perdido. Se Faulkner é o representante americano das sentenças labirínticas, Proust o antecedeu na Europa, com seu mergulho profundo na memória e em frases que se desdobram como camadas de um palimpsesto. Hemingway, por outro lado, segue o minimalismo e a precisão, que também encontram ecos em escritores como Kafka, com sua sobriedade narrativa.


Direi, que esse paralelo de escritores demonstra que o fazer literário, como o próprio Autran Dourado disse, é algo muito particular, e que o estilo é encontrado a partir de fatores casuais e acasos. Deve-se imitar um estilo até o ponto que ele captura o que de você tem nele; depois, abandoná-lo em busca de outra fatia que também diz muito do seu estilo, e por aí vai. Acredito que eu tenha algo dos dois em mim, mas não em plenitude, mas em porcentagem. Ambos buscavam efeitos diversos em sua literatura, e até Faulkner fez uma crítica sobre Hemingway, chamando sua escrita de simples demais, o que Hemingway considerou um elogio tremendo.


Acredito que há quem goste de temperos fortes e há quem goste de sal e água. Todo cozinheiro amador pode seguir receitas (os famosos livros de roteiro e oficina), mas só o mestre-cuca aprende a temperar ao nível de deixar sua marca. Enquanto isso, me deixe jogando páprica e cominho na panela, testando o sabor que dá no meu paladar. Isso é escrita; é matéria de cozinha.

Por fim, ler Faulkner e Hemingway juntos é fortemente recomendável por mim. Quando estava exausto dos desafios de Faulkner, buscava o conforto de Hemingway (agora entendo por que gostava tanto de Bukowski na adolescência, visto que ele teve muita influência de Hemingway). Quando cansava da simplicidade quase jornalística de Hemingway, corria para a beleza catedrática das sentenças longas de Faulkner.


No fim, os dois são geniais, da mesma forma que um santo se faz com ação e contemplação; cada um foi beatificado pelas letras por sua própria forma de encarar a musa. Essa dualidade entre a longa frase labiríntica e a curta sentença cirúrgica nos lembra que a literatura americana, como um todo, é uma celebração da diversidade de vozes e estilos. Assim como o jazz e o cinema americanos se firmaram com personalidades marcantes e contrastantes, a literatura deste país também pulsa com essa multiplicidade de tons.


Ler Faulkner e Hemingway foi como tomar um vinho seco com fruta no fondue. É a melhor forma que posso reproduzir o espírito da coisa.


 
 

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